Joaquim Cordão, o caubói de Morrais City

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Morrinhos é uma bela cidade, mas bem que poderia ter sido chamada de Cidade dos Pomares, tanto era a sua riqueza no plantio e cultivo de árvores frutíferas. As lendas que ouvia, casos, causos e percalços da vida, uma delas vou contar nesta crônica. Então, com o pensamento alhures sento em minha poltrona giratória, desligo o celular, olho o monitor, dou uma pequena pausa e fico aguardando os flashes que guardei na região recôndita do meu cérebro e que há muito tempo não o exercito para essa finalidade, ainda mais pra falar de um caubói regional, excelente boiadeiro, domador de cavalos, bravo, destemido, temido, assim como, dos meus ídolos, ou personificação deles quando os via nas telas de cinema. À minha frente o computador. Ligo-o. Penso. Forço a memória e os flashes em preto e branco vão surgindo na velocidade da luz trazendo recordações de tempos idos.

Lembro-me bem de um caubói regional, lá pelos anos 60, de nome Joaquim Cordão, que sempre trajava uma calça de algodão, camisa xadrez, cinto grosso, de couro, chapéu Panamá preto, botas, esporas e não se amedrontava quando tinha que enfrentar adversidades que a vida lhe impunha e até de domar alguns cavalos de raça. Ele possuía uma exímia pontaria e isso por si só, já trazia certo respeito por onde passava. O seu jeitão de ser e o modo como fazia para transformar a sua própria vida numa grande aventura virou lenda. Talvez seja em razão disso que lá pelas bandas do Rio São Domingos dos Olhos D’água ele tenha sido apelidado pelos moradores de “cowboy de Morrais City”, uma brincadeira dos moradores mais afoitos e quiçá, por ter ele nascido em Morrinhos. Á época, todos o achavam igualzinho aos caubóis, principalmente aqueles que nos encantavam nas telas de cinema e que hoje não se vê mais, pois as cenas de hoje mostram o homem passando ano todo andando quilômetros e mais quilômetros por estradas afora, algumas solitárias, dirigindo uma caminhonete, um carro de passeio ou caminhão de carga correndo atrás de reconhecimento, seja sobre o pó, asfalto ou nas chuvas das arenas. Hoje vemos Cowboys e cowgirls apenas nos rodeios e festas de pecuária, eles, jogando charme às moças, elas, aos azes dos rodeios, um estilo de vida totalmente diferenciada dos caubóis antigos que causavam frisson quando apareciam nas telas de cinema.

Desde a adolescência Joaquim se achava um caubói, talvez influenciado por aqueles grandes ídolos e personagens, tais como, John Wayne, Terence Will, Kirk Douglas, Steve MacQueen, Burt Lancaster, Paul Newman, Gary Cooper, James Stewart, Clint Eastwood, John Ford, Lee Van Cleef, Billy the Kid, Kid Colt, Zorro e até por Gordon Scott (Tarzan), O sonho não era só dele, era meu também e todos os adolescentes tinham os seus ídolos. De alguma forma aqueles ídolos nos fortaleciam, ajudavam a gente vencer na vida, bater recordes, superar desafios e viver momentos de glória. As rápidas explosões de ação de cada personagem, o perigo que ocorria durante suas aventuras, a extraordinária perícia no manuseio do revólver e a versatilidade do cavalo quarto de milha, faziam sucesso junto com o personagem, bastava um assovio e o animal se aproximava. Isso fascinava a platéia.

Hoje, a tendência é vermos uma geração de crianças e adolescentes viciando-se em vídeo game, tablete, celular e outras parafernálias eletrônicas, sem falar no uso de drogas, que os tiram do foco, de um futuro mais promissor e jamais seriam nossos cowboys do futuro. Ademais os filmes de terror, a guerra, a violência explícita, o terrorismo, não só alcançam pessoas de maior idade, como também menores que saem atirando em colegas de escolas; filhos assassinando pais e vice-versa, tudo isso gerado pela TV. É assustador! Maléfico! Estas cenas estão trazendo distúrbios mentais para muitas crianças e jovens, que dominados por algumas delas saem matando sem uma explicação plausível, sem pena ou dó daqueles que encontram pela frente. Ser cowboy não é isso, Nos tempos do faroeste, os caubóis e a gente galopava sem medo de ser feliz, contra o tempo e corríamos mais rápido que o vento. Era como desafiar a lei da gravidade no lombo de um animal feroz.

Joaquim era assim. Hoje com seus oitenta anos passa o tempo sentado numa cadeira de balanço observando calmamente alguns jovens correndo pela rua, descamisados e com a calça caindo sobre a bunda. Não tem o estilo de caubói como ele e tantos outros que cortavam o sertão afora, usando no coldre um revólver e ao lado uma algibeira. Estava ali, inerte, recordando dos bons tempos, e depois me olhou de soslaio, pedindo-me para escrever algo sobre os caubóis que encenavam nos filmes de faroeste americano, que parecia irreal, mas tudo aos olhos de quem assistia se transformava numa coisa espetacular, até real, e eu sabia como era e como devia falar sobre tais personagens. Não menti porque quando adolescente também fazia parte daquele mundo cinematográfico surreal. O problema não era saber ou esquecer-se de um ídolo ou personagem, mas de alguma palavra que pudesse não significar nada sobre a vida, o sentimento meu e o de Joaquim Cordão.

Descobri que a palavra inglesa cowboy, no Brasil foi aportuguesada (caubói e cobói). Portanto, se acham que mencionei errado ao titular esta crônica, não é verdade, e não houve propriamente um equivoco e sim uma derivação da palavra. Ao observar as diferentes culturas da História da humanidade, nenhuma ficou cristalizada, pelo contrário, houve trocas e variações que formaram novas culturas. No Brasil, diversas línguas como o português, o castelhano, o francês e o inglês entre outras se misturaram e formaram um jeito “abrasileirado” de falar. A palavra cowboy oriunda do faroeste americano, no Brasil aportuguesou-se como caubói. Todavia, deve-se entender que no âmbito da linguagem e da cultura, nada é cristalizado. Ela se transformou com o passar dos tempos menos o Joaquim, o caubói de Morrais City.




0 comentários:

Postar um comentário

 
Vanderlan Domingos © 2012 | Designed by Bubble Shooter, in collaboration with Reseller Hosting , Forum Jual Beli and Business Solutions