Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Flashes da vida em preto e branco

domingo, 27 de novembro de 2016


Se fosse descrever a minha vida ou mesmo tentar incluir a de vocês, eu diria que já vivemos momentos terríveis, alguns deles, têm-se a absoluta certeza de que foram fotografadas pela máquina do tempo em preto e branco, e na maioria das vezes, estas partículas ásperas retiradas da memória, revelaram alegrias, tristezas, encantos e desencantos insolúveis que foram repaginados para o futuro, em tons sépia com envelhecimento que se entranharam em nossa vida, às vezes, feitas realmente em preto e branco, porém, em razão da real situação momentânea que levamos, momentos estes retratados como se fossem uma coisa normal para quem não busca ou não consegue sair dessa anormalidade e quiçá, soltar as rédeas desse tempo e sair à procura do pincel da vida para colori-la de uma forma diferente, com amor, respeito, carinho e paz interior.

Em nossas vidas não existem tantas pedras preciosas. Existem pedras que são obstáculos naturais que se fazem retirar ou foram eternas imagens de alegria, onde a maioria procura receber tons alegres de lutas sucedidas de vitórias, realização de sonhos, símbolos muito difíceis, mas que angariam valores pelo resultado alcançado por cada um de nós. Toda pessoa sonha com um futuro melhor, ser bem sucedida em alguma coisa e isso é bom, pois todos vão alimentando de esperança o amanhã. Imagine o que seria de nossa existência sem ter com o que sonhar. Certamente ela não teria o mesmo sentido, visto que, às vezes, os sonhos nos levam a alcançar aquilo que parece impossível.

É certo que existem pessoas que vivem em preto e branco, desesperançado, desiludido. Todavia se pudessem ter um olhar mais simples sobre o seu modo de viver, poderia ser mais interessante, ou em ultimo estágio, procurar no Altar do Senhor Jesus o milagre tão esperado e o anjo da guarda para continuar enfrentando as labutas do dia a dia. Lendo a Bíblia, seja por inteiro ou não, sempre encontraremos palavras dizendo que Deus em sua infinita bondade, atribuiu a cada homem um Anjo, que acompanha todas as suas ações e passos; anjos que os protege contra os perigos do corpo e da alma, mas, infelizmente, a maioria deles parece que não se beneficia devidamente desse celeste protetor porque sequer se lembra que ele existe ou mesmo acredita nele. Os crédulos podem dizer que têm mais de um anjo. Quantas pessoas amigas nos protegem diariamente, sem contar aqueles que nos deixaram e se foram para outra dimensão, pelos quais oramos pra eles todos os dias. Podemos afirmar então que não temos anjos somente no mundo espiritual e ou mesmo no da imaginação, possuímos aqui na terra também, podem até serem poucos, mas valem quando vemos suas mãos estendidas quando mais precisamos.

Neste momento que escrevo, apago da minha memória o preto e branco para viver o colorido da vida. Sinto cair sobre mim um desejo ardente de agradecimento e até certo ponto inenarrável. Ao manusear o teclado do computador e passar para o monitor esta crônica, tive que me segurar o máximo para conter as lágrimas que ameaçavam sair de meus olhos, mas, como sempre faço nestes momentos, levanto a cabeça, olho pelo vão da janela e vejo o céu nublado com prenúncio de chuvas abundantes e aí respiro fundo tentando me controlar, afinal, eu não queria me parecer um fraco ou vitimizado perante essas pessoas que encheram minha vida de esperança e fé em dias melhores, haja vista que está longe o meu desejo que alguém fique decepcionado ou até sinta pena de mim. Quando ao papel de anjo que acho todos carregam dentro si, não posso nominá-los aqui, pois posso ferir alguém. Quantas pessoas especiais estão com a gente nos acompanhando de perto, diariamente, nos desejando muita alegria, saúde e paz? Quantas pessoas que nem precisam vestir-se de branco para ser nossos anjos da guarda? Quantas pessoas perambulam usando a máquina do tempo, sem os percalços impostos pelas curvas do destino? São seres sublimes que por meio de seus atos de bondade conseguem inserir em nossos corações durante toda a nossa existência a bondade, a perseverança, a dignidade e o amor ao próximo, fazendo com que seus exemplos nos façam agir também como anjos, todavia, para ajudar ou auxiliar alguém em um momento de necessidade, não precisamos ter asas, nem sermos anjos, basta apenas que tomemos a iniciativa de querer e poder ajudar. Pessoas amigas de verdade são raras, podem até não ter asas, mas se pedirmos para que sejam nossos anjos, elas reagem positivamente, deixam os flashes feitos em preto em branco, nos protegem e nos abrigam nas suas imaginárias e doces asas para que voltemos a viver o colorido da vida.


Bodas de "cabra macho".

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Diante do espelho de uma antiga penteadeira cuja moldura já estava corroída pelas traças Dona Francisca Cabribó observava seus cabelos compridos já grisalhos, às vezes os soltava ou os prendia no coque alto; rosto carcomido pelas intempéries do tempo, olhos cansados envoltos pela pele vincada por pequenas rugas; boca amarga travada para baixo, num desdém pelos sorrisos que já dera na vida, então pergunta a si mesmo se toda a sua vida é uma ilusão ou se é a corrosão de sua alma, do abandono de seus sonhos, do esquecimento de seus ideais ou de sua desistência da paixão? Evitava olhar no espelho e não mais importava ver como estava sua face que, talvez, quisesse esconder dela mesmo. Mas sabia ser difícil. Ela se lembrava sim, pois tudo fora diferente um dia e não tinha como esconder. Era cheia de energia, inquieta, transbordante, vivaz. Cabelos sempre bem penteados e por mais que ela vivesse em terra seca, árida e cercada por imensa caatinga, as maçãs do rosto estavam sempre coradas; os passos ágeis e os olhos arregalados, também estavam sempre prontos para absorver o mundo na sua totalidade. Num piscar de olhos vinha à sua mente aquela menina deslumbrada com a vida, correndo pela terra poeirenta de sol ardente como se estivesse carregando a tiracolo uma alma de criança. Sempre sonhou em morar numa cidade grande e viver de tear, confeccionar cobertas de puro algodão, bordar, tricotar, cujo ofício aprendera com a avó na Fazenda Serra do Cipó; casar-se com um príncipe encantado de cabelos loiros e montados num cavalo branco fossem para uma cidade grande e juntos, freqüentarem museus e ver obras maravilhosas, gente diferente e comerem guloseimas nos cafés oferecidos nos quiosques esparramados pela cidade, e à noite, se amarem no chão com loucura, sobre os tapetes bordados por suas mãos e pelas mãos angelicais de sua avó Ambrosina.

Quem não traz consigo um sonho não realizado? Quem não traz lembranças agradáveis de tempos de criança? Quem não se lembraria das brincadeiras de roda, amarelinha, passa anel, peteca, pata-choca, pular corda e tantas outras invenções, pois naquele tempo elas não tinham as dificuldades encontradas nos dias de hoje, pois tudo está colocado à disposição, mas havia outras opções para se divertirem? Pode ser saudosismo de dona Francisca, mas é importante voltar um pouco no tempo e recordar as horas em que se divertiam, inclusive, jogando conversa fora ou combinando traquinagem com as amigas.

Mas tudo tem o seu tempo e certo dia, contrariando todo um sonho, conheceu um jovem peão boiadeiro e logo se encantou com ele. Começaram a namorar. No começo mais parecia empolgação, depois se tornou sério e em pouco tempo, veio à aprovação da família. E, quando ela se deu conta já estava “amarrada” ao gajo, sentindo-se, talvez, que não era aquela vida que queria para si, mas de nada adiantava, pois já estava tudo consumado. Noivou-se. Sua família já olhava o casal com expectativa. Enquanto os sinos badalavam Francisca pensou em desistir e andou pela nave da igreja como o coração apertado. O jovem peão a esperava sorrindo e ela não resistiu ao seu encanto e se entregou. Casou. Teve doze filhos, netos e bisnetos. Grandes alegrias tiverem. Algumas tristezas também. Um amor ora era quente, ora morno. Rotinas de dona de casa eram o normal. Suas telas que foram trabalhadas pacientemente no tear iam se apinhando nas paredes da sala. Linhas de várias cores iam formando os desenhos imaginados e desenhados numa folha de papel. Os anos se passaram e certo dia, festivo, passou frente ao espelho ainda cheirando coisa nova, moldura mantendo resistência ao tempo, deu uma olhada de soslaio e se preparou para descer ao salão já ornamentado, onde encontraria toda a sua família e o marido, exceto a outra, a concubina, dia em que iria comemorar suas bodas de diamante, que ele insistia e até se vangloriava em chamar de “bodas de cabra macho.” Talvez fosse normal naquela região nordestina o homem convivesse com uma ou mais mulheres, cuja razão se desconhece.

Ele estava completando sessenta anos de casamento com Francisca Cabribó e noutra região não muito longe, a sua concubina Saturnina Fricó e seus doze filhos, mesmo sem sua presença, comemoravam também as bodas de diamante. Francisca Cabribó ficou sabendo da concubinagem poucos dias depois do seu casamento, mas mesmo assim, independentemente dessa famigerada convivência conjugal dupla de seu marido, procurou manter-se sóbria, feliz e suspirava todos os dias, pensando de como seria sua vida se tivesse feito outra escolha. Antes de descer a pequena escada do casarão feito de assoalho de tábuas e paredes de puro adobe olhou para um dos seus quadros pendurados na parede onde se via bordado uma paisagem primaveril, que ela extraíra de uma região que jamais conhecera e de outro lado, outro quadro, com uma foto, um peão, mas sem o cavalo branco, estava junto com um homem de olhos azuis, calvo, sentados num banco de madeira olhando os filhos brincar ao entardecer. Na foto tirada há décadas por um lambe-lambe, não era o tão sonhado príncipe encantado. Era o seu marido Manoel Justino. Todavia, como o amor falou mais alto, olhou mais uma vez e sua boca travou-se na emoção e no amargor que não vinha do café com açúcar que costumava adoçar todas as manhãs. Deu um leve sorriso e prosseguiu...

Sentado num confortável banco de madeira Manoel Justino jogava conversa fora com os filhos e amigos, mas os seus olhos não deixavam de contemplar o cair da tarde no pequeno sítio Mandruvá no interior do Ceará. Pela ribanceira um filete de água cristalina descia serpenteando entre os declives da mata nativa, cercada de pedregulhos, brejal e coqueiros, dando vida ao local e pouco adiante, cair em cachoeira, e por onde passava ia transformando em campos verdejantes, fazendo os ventos brincarem de montanha-russa e roçar os pés de mandioca e milho que se alastravam pela ribanceira até alcançar a parte do córrego Mandruvá, nome que deu origem ao sítio. Indiferente a tudo, as águas não viam as horas passar e tampouco tinha tempo para parar e ouvir as prosas contadas por Manoel Justino.



Carolina, a guerreira.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016


Ontem, 15 de novembro, comemoraram-se em todo o Brasil a Proclamação da República. Hoje, no entanto, mesmo sendo de suma importância essa data para os brasileiros, eu deixo de escrever aqui sobre este ato solene ocorrido há mais de cem anos. Se me permitem, quero é falar da saudosa Carolina que no dia 15 de novembro de 2011 se foi pra outra dimensão deixando além da saudade, uma história de vida exemplar, vivida nesta terra com muita honradez, humildade, garra e perseverança. A cada dia quando me lembro dela aprendo com meus erros ou acertos o quão é importante é saber que todo o dia vivo algo novo. Aprendo a vislumbrar o hoje e o dia de amanhã de uma forma diferente do de ontem e vivê-lo intensamente com muita paz e esperança, pois a vida é uma dádiva e cada momento vivido é uma bênção de Deus. Sei que ela passou dias difíceis naquele leito de hospital. Mas a vida é assim. Tem situações que parecem complicadas e custamos a entender. Pode ser incompreensível para muitos em se tratando de morte, não obstante sabermos que um dia ela virá com todo o seu mistério e que jamais será desvendado porque só Deus sabe o momento de subirmos ou descer os degraus da vida e nos mostrar o caminho da luz. Cercada de virtuosidades, dona Carolina deixou esta terra depois de uma luta intensa pela sobrevivência e ontem, quando se completou cinco anos de seu falecimento, senti-me novamente tocado pela dor e saudade restando-me a  reflexão e o desejo de lembrar-se do seu passado feito de muita garra, amor, sabedoria e virtude

Quais dos filhos não se lembrariam daquele pequeno ônibus onde ela, juntamente com eles, deixou a pequena cidade de Morrinhos, em busca de um novo lar, de uma vida melhor na Capital. Pela estrada de chão, esburacada, o ônibus seguia célere deixando para trás uma poeira fina que se esparramava com o auxílio do vento, apagando imagens de um passado como se nela tivesse sido impregnada a borracha do tempo, e lá dentro, sacudidos pela trepidação, outros passageiros também sonhavam com um mundo melhor, mas, receosos de não conseguirem alcançarem os seus intentos seguiam silenciosos. Pela fresta da janela passava o vento que acariciava o seu rosto triste, mas não impedia que sua mente contabilizasse os quilômetros emplacados estrada afora, e de forma sutil, seus olhos ainda tinham a sensibilidade de contemplar a natureza, cujos vales, serras e montes iam passando velozmente à medida que o veículo seguia rumo ao seu destino. O seu semblante jovem transpirava dor e saudade do esposo que falecera de forma trágica, no entanto, mesmo assim, soube manusear as rédeas do destino, frear e puxar  o cabresto que construiu usando cordas de ternura que acostava aos filhos, para, no momento certo, poder puxar, exigir ou se recusar, até de forma obstinada, qualquer coisa que lhe contrariasse ou entristecia seu coração.

Naquele ônibus, antes de afundar no seu mar de sonhos Carolina sabia que mais adiante, mesmo sem teto, não poderia se curvar diante das adversidades que surgiriam, pois teria que sustentar e agasalhar nove filhos,   talvez, fazendo faxinas em residências ou usando os carrinhos da vida para buscar peças de roupas em bairros distantes, lavá-las no tanque da integridade e pendurá-las no varal da vida sob um sol escaldante. Tempo em que talvez não tenha contabilizado; tempo que lhe consumiu o corpo e fez aparecer os     primeiros cabelos brancos protagonizados por este mesmo tempo.

Carolina viu os seus filhos crescerem imbuídos de responsabilidade, honestidade, dignidade e respeito ao ser humano. Carolina que mesmo doente se preocupava com tudo, cuidava de todos com esmero e carinho, servindo-se de modelo para seus filhos, netos, bisnetos e tataranetos, fazendo-os entender que o amor faz gerar sorrisos e que amar significava querer mais e mais de uma pessoa. Ela foi assim: sempre procurou ensinar corretamente, de forma que todos pudessem compreender os seus próprios sentimentos, quando na verdade, poucos compreendiam e, muitas vezes, lhe pedia aquilo que não podia dar.

Ontem, 15 de novembro, quando se completou cinco anos de sua “passagem” para outra dimensão, ela continua pulverizando sobre todos que a rodeavam, o amor e virtudes. Foi com ela o sorriso angelical; foi com ela o jeito simples de fazer crochê e tapetes que eram montados com retalhos de tecidos multicoloridos; foi com ela a vontade férrea de viver; foi com ela a batuta que regeu, como um maestro, a vida de cada um de seus filhos, tudo embalado pela sinfonia de sua própria vida. Mãe Carolina, seus filhos reconhecem que você deixou um legado de carinho, amor ao próximo e virtuosidade, por isso é que todos a consideram uma guerreira.  Mãe desculpe por escrever este texto como se eu fosse um escriba, todavia, o fiz assim para poder registrar nos anais da história a sua vida e ao final dizer-lhe: Mãe Carolina, você foi uma guerreira, amparou os seus filhos, me transformou num homem justo, ensinou-me o caminho da retidão e a defender os injustiçados. Caros leitores, ao finalizar, eu não poderia deixar colocar uma frase que vi num calendário: “Há muita dor que precisa ser curada, há muito choro  sufocado, há muita injustiça para ser vencida. Em tudo isso, a certeza de que só Deus é a resposta. Deus não explica a dor, mas, na cruz, ressuscita a esperança e o amor”


Festa do folclore em Goiás

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Nos dias 17 e 18 de novembro, na Vila Cultural Cora Coralina, será realizado o 1.º Encontro das Comissões Municipais de Folclore com participação de várias cidades, sob a coordenação da Comissão Goiana de Folclore, presidida pela senhora Izabel Signorelli. Seja através do folclore ou não, sabemos que a arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, jeito de vestir, harmonia, equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em especial, na escultura, na pintura, no cinema, e principalmente, no que tange ao folclore, que é o tema do qual ora pretendo comentar. Sabemos também que há milhares de anos a arte foi se evoluindo e ocupando um importantíssimo espaço na sociedade, haja vista que algumas representações de artes são indispensáveis para muitas pessoas nos dias atuais. Esses trabalhos artísticos assim como o folclore, são capazes de nos deixar boquiabertos, sejam diante de telas, sejam através de trajes típicos, sejam através das danças e estilos musicais regionais, todos massageiam o nosso ego, trazendo pura magia e expressões surrealistas que nos deixam atônitos, encantados. Em seu artigo “O folclore avança em Goiás” o escritor Bariani Ortêncio disse: “O folclore é a sabedoria do povo. E esta sabedoria vem passando das pessoas simples que recebem dos seus ancestrais, de geração a geração, dos analfabetos até os instruídos. “E o folclore não fica só com o povo simples, sem instrução; chega à sociedade, às camadas cultas, influi e incentiva as letras e as artes”. È a mais pura verdade!

Muitas pessoas dizem não ter interesse pelo folclore ou por movimentos ligados a ele, porém o que elas não imaginam é que esta arte nada mais é que a tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. Todos os municípios sejam de qualquer parte do Brasil possuem suas tradições, crenças e superstições, que se transmitem através das tradições, lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo. A arte folclórica é praticada em todo o mundo, em diferentes culturas. Quando Bariani disse em seu artigo que o folclore incentiva as letras e outras artes, concordei plenamente, pois foi através dele também que me enveredei pelo mundo das letras, escrevendo crônicas, poesias e romances, sempre tendo nas entrelinhas de cada texto um pouco dessa arte milenar. É importante observar que essas coisas não se governam, elas tomam conta da gente e fazem a gente sonhar com o possível e o impossível.

Os artigos, crônicas e poesias escritas semanalmente em jornais por grandes escritores e articulistas, também é uma arte que muitas vezes nos trazem o espanto, um sentimento corriqueiro ou um acontecimento inusitado que pode abalar a sociedade em razão de sua contundência. Os escritores que escrevem no seu habitat gostam do silêncio porque ele o faz viajar no mundo da imaginação e o barulho, por menor que seja, os espantam, tiram deles a máquina imaginária que poderia trazer, no último flash, uma resposta plausível à sociedade. A Arte seja a pintura, a música, a dança, o cinema, de uma maneira geral é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida, já o folclore, vai mais além disso, pois ele é sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação.

A arte está em toda parte e, por mais simplórios que possamos ser, por mais embrutecidos que venhamos a ser, cada um de nós tem a noção da beleza e a arte atua em nossa vida, nas suas mais variadas formas. Todas elas são necessárias, porque é só através da arte que o homem inventa o mundo em que vive e todos nós estamos em maior ou menor grau, dependentes dela. Observem que o homem do sertão, que por si só, já é um artista por natureza, pois quando ouve o cantar dos pássaros sabe que já é época de acasalamento ou de alçar os primeiros voos ou quando se reúne em volta da fogueira para contar seus causos de saci, onça pintada, vampiros, quadrilha, festa junina, tudo é folclore, o qual nada mais é do que a reinvenção da vida através da beleza da arte.

Todos nós artistas sabemos que a arte trabalha com outros elementos que não a razão e emoção e quanto a isso devemos lembrar que o folclore não é um conhecimento cristalizado, embora se enraíze em tradições antigas, mas ele se transforma no contato entre culturas distintas, entre migrações, e hoje graças aos meios de comunicação principalmente através internet é que vemos expandir essa arte que pode ser vista ou vivida por pessoas que dizem desconhecer. Cabe a UNESCO orientar as comunidades no sentido de bem administrar sua herança folclórica, sabendo que o progresso e as mudanças que ele provoca podem tanto enriquecer uma cultura como destruí-la para sempre. A arte folclórica não quer agradar, ela não busca o agrado, ela busca um sentimento que nos tire do chão, que nos leve para um lugar onde não frequentamos em nossos dias comuns; ele nos entorta a cabeça, nos faz pensar, e às vezes, duvidar de tudo aquilo que presenciamos a olho nu. A vida, comum, não é o suficiente, deve-se procurar algo além dela, pois se ficarmos parado, mesmo que metaforicamente, é o primeiro passo rumo à morte e isso o artista não almeja. Se o artista optar apenas pela sobrevivência e não pela expressão máxima do que é o prazer pela própria vida de nada adiantará uma bela apresentação sobre um palco, ruas ou praças. E como disse Bariani Ortêncio: “Estudar o folclore é estudar o próprio povo, com tudo o que lhe diz respeito. É o exemplo, como vimos,  de tudo o que vem do passado, transmitido através das gerações”. Mais uma verdade dita pelo mestre, pois o folclore no eleva e nos transporta a um mundo surreal, e é graças a ele que nos escritores romancistas e poetas viajamos em busca do improvável e isto nos deixa encantados e fascinados pela vida.


 
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