Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Calou-se uma voz

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Certo dia eu fui conversar com o amigo Matusalém, fumante inveterado, que bebia em demasia e conversava tanto que até espumava o canto da boca, esse fato nos fazia lembrar de certo político goiano. Era uma pessoa boníssima, alegre, cantava, tocava violão e era realmente bastante comunicativo, mas não posso negar que tinha dificuldade de conversar com ele, pois além do cheiro do cigarro, ele realmente falava demais. Eu o conhecia desde os tempos da jovem guarda, então, o que eu podia fazer? Conselho já tinha dado tantos! O jeito era continuar aguentando, a escutá-lo e nada mais. Podia-se dizer que ele era uma pessoa que "falava por mim" ao invés de se envolver com o meu curto palavreado. 

Como não sou de conversar muito, apenas o suficiente para o bom entendimento, esses tipos de pessoas parecem ter uma capacidade infalível para me encontrar, estando sozinho ou não. Posso estar relaxado num canto qualquer, conversando tranquilamente com as pessoas, mas em segundos, quando aparece esse tipo de gente mais pareço um animal assustado. É como estivesse diante de faróis de um carro. Fico embaraçado e perplexo diante do impecável monólogo dele ou deles, e preso, como se estivesse numa armadilha, incapaz de escapar e buscar a minha liberdade perdida.

Difícil é o tagarela entrar no ritmo meu, mas ocorre, visto que ele não se incomoda com preliminares sociais e ainda exibe uma incrível habilidade de escutar, mas quando volta a falar, o faz sem hesitação e até mesmo sem respirar. E isso às vezes a gente suporta em razão de um vasto estoque de informações que carrega e que contém muitas vezes temas favoritos nossos, principalmente, literatura, artes e até futebol. Interrompe-los ou conseguir um aparte jamais nós devemos fazer isso, pois eles têm suas estratégias. Não resistem momentaneamente, olham pra gente sorrateiramente enquanto murmuramos nossas tolices, e no momento em que vacilamos, eles continuam de onde pararam - como se a gente não tivesse falado nada. E o pior é que não falamos mesmo! O tagarela incessante não se distrai com tais irrelevâncias. Tudo que importa é transmitir o que está em sua mente.

Quando estou diante desses indivíduos gosto de observar com atenção a sua fala no afã de descobrir não apenas o que eles pensam e fazem, mas porque pensam e fazem. Para o tagarela uma coisa é certa, ele não é motivado pelo incentivo. Longe de incentivá-lo, eu e os meus leitores/vítimas tentamos é evitá-lo.

Alguns indivíduos estão envolvidos em seu próprio mundo - egocêntricos, simplesmente não estão interessados em nós ou em nossos sentimentos. Eles nunca aprenderam que o diálogo sadio e comunicação entre pessoas é uma troca de ideias, sentimentos e informações mútuas, todavia, durante minha observação descobri que essas pessoas são tímidas e até certo ponto nervosas e que suas conversas também bloqueiam o seu próprio diálogo, trazendo o medo da interação e a sua forma de tagarelice, nada mais é do que manter-nos à distância. Eles acham que são interessantes e que os outros gostam de ouvi-los. Eles acreditam que comunicação é entreter pessoas ou de lhes fornecer informações, nos deixam hipnotizados, sobrecarregando a nossa mente, inibindo o nosso pensamento, confundindo-nos com suas falas monotonamente compassadas.

Mas voltemos ao meu amigo Matusalém. Naquele dia observei que se encontrava bastante calado, para mim, anormal. Eu puxava conversa e nada. Notei que alguma coisa tinha acontecido. O seu semblante estava triste e os olhos avermelhados. Cabisbaixo, soltou um sorriso pálido, deixando de lado suas habilidades tradicionais de um grande comunicador, esvaiu-se a sua simpatia e como bom ator, escondia o que se passava com ele. Procurei fazer umas graças, contei piadinhas, mesmo sem graça, mas contei. Tentei ser tagarela igual a ele, mas nada funcionou. Pensava comigo mesmo: Será que naquele dia queria em que fui visitá-lo queria jogar um jogo diferente ou queria que eu o notasse de verdade. Percebi sim, mas apenas diferenças no seu modo olhar, de como se cuidava ou como fazia para escapar, de como passar-se por ofendido, magoar-se ou até, em certos momentos, recusar-se a perder o seu tempo com a gente. Mas a minha obrigação de amigo era lembrar-lhe de nossa amizade e que podia confiar, todavia, qual foi minha surpresa quando ao ler um diagnóstico jogado sobre uma mesa, simplesmente constatei que às vezes pertencemos a um bando de calados, que às vezes fingimos de cegos ou de surdos diante de certas situações. Então, sem ele perceber, eu peguei a pequena anotação médica e comecei a ler: “O câncer da língua, garganta e pulmão não são o mais frequente de todos, no entanto costuma manifestar-se em fumadores ativos e em pessoas que bebem bastante, e que com o passar dos anos, a sua presença dentro das estatísticas vão aumentando. É mais comum nos homens do que em mulheres, esta doença conta com um bom prognóstico de recuperação se for detectada a tempo, por isso torna-se importante saber quais são os primeiros sintomas de câncer da língua, especialmente se encontrar no grupo de risco.” Fiquei perplexo!

Sabemos que viver muito é somar perdas, é ficar inchado de coisas que nos vão deixando pelo caminho. Raramente, os que morrem assim, são os preferidos de Deus. Morrer assim é como um ícone romântico que deixa hígida, festiva a imagem do morto, de toda sua vida e do que poderia ter ocorrido durante sua existência. Todos os sonhos e realizações. No álbum de fotos do amigo era fácil observar o permanente sorriso celebrando a vida e a juventude. Era fácil ver no seu jeito alegre e a forma de como enfrentava o dia a dia, de como enfrentava tardes sem pôr do sol, ou de crepúsculos opacos, avermelhados ou cinzentos. Mas naquele instante além do seu álbum, observava mais que tudo, as defecções, as fugas e a crescente solidão de ver grupos de pessoas amigas nos deixando, assim como ele, indo para outra dimensão, enquanto outros, aqui na terra, se encolhendo a cada dia, como aconteceu com Matusalém, dias depois, num leito de hospital, onde ficamos sabendo de sua grave doença. Atônitos, ouvimos ali o último suspiro, calar-se uma voz e vimos o grande amigo tagarela deixar este mundo para sempre.


Quando fazemos nossas escolhas será que sabemos das consequências?

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

 Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Frase de Pablo Neruda, poeta chileno, nascido em 12 de julho de 1904, um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX. Foi cônsul do Chile na Espanha e no México. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971.


As escolhas podem ser feitas por mim,  por você, ou por qualquer pessoa, mas temos que ter o máximo de cuidado, pois as consequências podem atingir muita gente. (Eu).
O poeta realmente estava correto. Certas escolhas que fazemos em nosso dia a dia podem realmente determinar o rumo de nossa história. São de extrema importância e muitas delas precisam de cautela antes de ser tomadas, pois podem determinar o caminho para a felicidade ou para tristeza ao longo de uma vida. Nós, literalmente falando, colhemos as consequência pelas escolhas que plantamos. De alguns conceitos que procurei extrair no tocante a escolha e suas consequência, embora não tivesse contato com nenhuma pessoa ligada à área, alguma das opiniões que coloquei aqui creio que, com o passar dos tempos, mudaram. Entendo que certas afirmações foram um tanto quanto radicais, mas não discordei taxativamente de alguns pontos de vista até que me convencer e poder publicá-lo no Diário da Manhã. Na verdade, podia ter lido sobre o assunto nalgum lugar, num livro qualquer, mas a memória falhava. Esquecia de lembrar ou esquecia-se de esquecer. Em certas circunstâncias, era vantagem ter péssima memória, pois me divertia com a situação, voltava ao lugar onde achava que tinha lido ou perdido, mas não me lembrava do que ia procurar, dava um “branco”, uma pane momentânea na memória. Sabia que podia ser coisa importante, mas infelizmente, não era a primeira vez que acontecia. 

Viver, queira ou não queira, é uma escolha. Ambos os sentidos dessa frase são verdadeiros: pode-se acabar com a vida morrendo, do nascimento à morte, surgindo situações em que duas ou mais escolhas nos são apresentadas: os novos caminhos que você deverá seguir. As circunstâncias dessas escolhas são as mais variadas, algumas têm consequências mais simples enquanto outras são mais complexas. A partir das consequências é que deve se tomar a real decisão, todavia, hão de se convir que esse seja o problema que está levando o mundo ao caos. Não é simples levar em conta no que culminará numa decisão precipitada ou não. Nota-se que quanto maior o grau de instrução de uma pessoa, maior a chance da decisão tomada ser a melhor possível. Como o grau de instrução da maior parte da população brasileira é baixo, as pessoas tomam decisões precipitadas e sem levar em conta as consequência.

Além das situações em que a escolha é responsabilidade da pessoa, existem situações que fogem do controle opcional. O indivíduo que não tem oportunidade de ter educação, o que é de direito de qualquer cidadão e falta aos brasileiros, tende a não tomar as decisões mais corretas, podendo arriscar sua vida por isso. Considerando o derrotismo e o sofrimento de uma falta de emprego e de não poder dar o melhor para os filhos, o pai pode desesperar-se e passar a praticar crimes para conseguir dinheiro. Enfim, todas más escolhas dependem de uma série de acontecimentos precedentes na vida e que muitas vezes a culpa não se deve aplicar a esses indivíduos. Se os acordos que existem entre os seres humanos fossem cumpridos, principalmente no que diz respeito aos governantes, a situação sem dúvida melhoraria.

Outro fator que interfere ultimamente nas escolhas é a transformação do que é cultural em natural. As coisas consideradas erradas passam a ser aceitas como certas. A busca desenfreada de estar à frente das outras pessoas monetariamente, o racismo, os preconceitos e outras situações foi criada pela cultura e são consideradas naturais. É interessante perceber como, atualmente, a maioria das pessoas tem uma grande dificuldade para lidar com as consequências de suas escolhas, alguns, consciente ou inconscientemente, procuram culpados para justificar seus próprios sofrimentos. Sim, vivemos uma concreta crise no senso de responsabilidade, em que muito se escolhe e pouco se quer arcar com as consequências do que se escolhe.

Urge, mais do que nunca, aprendermos a arcar com as consequências de nossas escolhas, sabendo que somos os reais protagonistas de nossa existência e que esta só poderá acontecer com qualidade, se por ela (qualidade) decidirmos em cada fragmento que compõe o nosso todo. De outra parte, temos de resgatar a capacidade de escolher com clareza, tendo diante de si a consciência concreta das consequências do que vamos acolher. Nossa vontade precisa ser forte, pois só assim ela poderá acontecer com liberdade e segurança, sem ser condicionada a vícios ou paixões que a deixe opaca e fragmentada.

Diante disso, acredito que todos, indistintamente, precisam permitir aos seus entes queridos e pessoas de seu convívio a enfrentarem todos os sofrimentos causados por suas más escolhas, pois, se eles se ausentarem disso nunca conseguirão crescer e acabarão aprisionados dentro de si mesmos, sem uma reta consciência das consequências daquilo que na vida um dia eles terão o ofício de escolher. De outra parte, é extremamente necessária esta compreensão: Muito em nossa história dependerá dos outros e principalmente de Deus, contudo, muitos dependem somente de nós e das escolhas que fizermos e, culpar esses outros porque nossa vida não é tão boa, não eliminará definitivamente as dores e problemas que configuram nossos dias.

Será que o medo é real? Como vencê-lo?

domingo, 13 de setembro de 2015

O tempo vai passando sem pedir licença e quando a gente menos espera visualizamos no espelho da vida algumas escolhas que deixamos de fazer, tudo isso em razão do medo de recomeçar, do medo da mudança, do medo da desconfiança, do medo da recessão, do medo da ingratidão, do medo da fome, do medo da doença, do medo da dor, do medo da morte, do medo de trocar o certo pelo duvidoso, do medo de largar aquilo que nos parece “melhor” ou mais correto; do medo de buscar algo que nos instiga por dentro, esse algo que ainda não é concreto, mas que vive e respira em nossa mente. Mas diante do medo, se ficar acomodados, é como ver a vida passar como a uma folha seca que, ao se desprender do galho, é levada pelo vento, sai planando no ar, sem rumo, sem escolha alguma, simplesmente deixando-se levar. Igual a ela, às vezes, fazemos de nossas vidas assim e como não podemos ser carregadas pelo vento, deixamos nossas escolhas nas mãos do próximo, e nessas mãos, uma carga bastante pesada e aí, passamos a viver na inércia, acomodados, voltados mais para nossos desejos e sonhos, talvez seja por medo de ter medo.

Hoje o que nos estaciona no tempo é o medo, medo de realmente encarar a realidade, medo de enfrentar desafios, medo de encarar o próprio tempo que ainda nos resta, medo de nossos próprios semelhantes. Sabemos que ele não nos leva nem pra frente, nem pra trás, aliás, ninguém regride na escada da vida, tanto pessoal, profissional, espiritual e que estão sempre em evolução, mas acomodam-se, e muitas vezes, estacionam-se num mundinho que criaram, ficando anos e anos assim, tudo graças ao medo que toma conta de nossa alma. Não podemos aceitar isso, não podemos deixar que nossas escolhas fiquem presas nas grades do aleatório. O que nos garante que muitas vezes aquilo que tememos vai acontecer? Nada nos garante, mas o nosso pensamento faz-nos crer que o que tememos vai mesmo acontecer. Então pergunto: Quer desafiar a sua cabeça e experimentar? Sabemos que ninguém veio a este planeta terra por acaso e além do mais, Deus nos deu o livre arbítrio para agir, viver a vida, mas temos que saber que ela vai querer mais da gente. Então, resta-me dizer: saiamos da inércia que não nos leva a nada, levantemos nossa cabeça, enchamos nossa alma de valores éticos, morais, espirituais e creiamos num mundo melhor, sigamos em frente com caminho escolhido, pois o medo servirá apenas como um alerta e fará com que a gente repense tudo, que não devemos parar quando a estrada for incerta. Devemos abrir os olhos do nosso coração, sentir a magia que é a vida, vivê-la intensamente e aproveitar cada momento. Quando sairmos da inércia e dermos o primeiro passo, o outro já estará dado.

Sentimentos eu tenho, você tem, todos têm, mas dentro de mim ele quer crescer, mas quando começa a crescer basta ver uma foto pendurada na parede, de um ente querido especial que já se foi para outra dimensão; basta ver sobre a escrivaninha uma frase de amor, fé e esperança escrita numa pequena folha de papel, frase que faz com que eu me escondo dentro de mim mesmo, frase que fortalece e que me faz ir mais além, frase que indica onde encontrar pessoas de bem, ainda mais sabendo que elas são seres inocentes, frase que se um dia ler em qualquer lugar e conseguir interpretar entenderá o porquê dos meus sentimentos. Frase que me libertou e que dá o poder de libertar, de crescer, ou simplesmente sair da inércia e ir para a luta, pois, caso contrário, não conseguiria ir mais além por conta dessa barreira imposta pelo medo. Eu sei e você sabe muito bem o que representa essa pequena palavra medo. Nela reconhecemos o estado de alerta que sentimos num momento de risco (real ou imaginário): O coração, sem aviso prévio, começa a pulsar descompassado,  as mãos tremulam frias e suam, as pernas bambeiam, perdem o chão, a voz começa a travar, vem uma zonzeira e um sufoco no peito que toma conta da gente. Esses descompassos em nosso corpo são simplesmente momentos de reativação, acionados, ora por associações emocionais negativas, ora por registros primários, instalados no nosso centro instintivo. Esses últimos como soldados de nosso instinto de sobrevivência, se prontificam a nos dar respaldo em situações reais de alerta.

O medo de encarar a vida faz-nos estagnar no tempo, faz-nos voltar á estaca zero, confiança zero e tudo o que falarmos será em vão... Não sabemos mais como agir, falta-nos argumentos, fogem-nos as palavras, o medo vem e nos domina, mas não quero descrever aqui nesta pequena folha de papel o meu medo, apenas, junto com você, aprender a dominá-lo.

Deveríamos agradecer aos problemas que surgem diariamente, porque são eles que nos movem nas áreas em que estamos paralisados. Às vezes estamos tão acostumados a essa inércia que nem percebemos como poderíamos melhorar. Mas daí vem um problema que nos obriga a mover toda nossa energia para um deslocamento na situação, uma melhoria em nossa vida. Isso pode ser uma mudança de hábitos, uma nova postura em relação às pessoas, um novo curso ou o final de um ciclo de coisas já esgotadas, que se dependesse da gente não moveríamos por encontramos em situação confortável. Só perceberemos bem essa mudança depois de sabermos o quanto aquele problema foi útil e a transformação interior que veio mansa nos envolveu. Se tivéssemos uma visão crítica, de reconhecermos a nossa inércia perante a sociedade em que vivemos, de conseguirmos observar as áreas paralisadas da nossa vida, de deixarmos de ter medo de tudo e do próprio medo, podem ter a certeza que problemas não existiriam. Por outro lado, a vida é como uma continuidade em movimento e não como uma série de  rupturas. Cada medo que você reconhece ter e o enfrenta nada mais é que uma oportunidade que tens de se superar e crescer. Mais que um adversário, ele pode ser um mensageiro de novos tempos, indicando que melhores horizontes estão à sua espera. Então o que posso lhe dizer para vencer o medo: Contate-o, enfrente-o e siga adiante. (Leia Salmo 146). Paz e bem.



Sabrina, uma morena de periferia.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

                  (Crédito ilustração: Akeno Kurokawa/Aline França).
Sabrina era uma menina de periferia que queria viver bem, ter uma família, e quando sair, receber uma bênção da mãe, uma bênção do pai. Queria através da janela do casebre onde morava ver o pôr do sol, o nascer da lua, ter tempo para contar as estrelas... Mas como era difícil ficar lá ou sair de lá a pé, descer as escadarias construídas milimetricamente sobre um morro íngreme. Seguir em frente até onde os olhos pudessem enxergar e quando chegasse lá embaixo saber que dificilmente enxergaria mais adiante. Os olhos seriam dominados e encobertos pela selva de pedra. O jeito era driblar todos os desafios porque só longe da periferia sentiria o gosto de um beijo, o abraço de um homem de bem e descobriria como o mundo era e como as pessoas seriam. Ela era apenas Nina, uma menina, que queria conhecer o melhor de cada um, fazer amizades, descobrir inimizades e sob uma canção de ninar, fazer amor. Desse amor, poder comprar sapatos, vestidos, saias, lingeries, tudo novo e ao seu estilo. E Sabrina preenchia os olhos dos amantes com sua beleza e sensualidade descomunal. Ela se sentia bem do jeito que era, mas não a felicidade de ter uma família, receber durante sua chegada ou saída, uma benção dos pais. Em certos momentos achava que devia ter morrido durante o parto, mas a vontade de viver, de descobrir o prazer da carne e o amor era muito maior do que os problemas que a envolvia, daquele lugar que odiava e que todos chamavam de periferia, onde, infelizmente, seu mundo nascia todo santo dia.

Sabrina, mais conhecida como Nina não tinha pela branca, mas sua cor negra, cabelos anelados, olhos verdes, nariz fino, que traziam a feição de um pai branco de cabelo liso, ou de uma mãe negra de cabelos ondulados. Eles passaram a vida toda tentando convencê-la que a sua pele era parda, de tom claro, fazia dela uma menina branca, mas ela nunca aceitou isso. Odiava a ideia de ser branca e na realidade, não era. Nunca teve crise de identidade e chegou também a ser chamada de racista e diziam: “Aquela louca ali odeia branco”. Que nada seus amantes encontrados na selva de pedra todos eram brancos. Que blefem os vizinhos! Ouvia isso de muita gente, tanto dentro de sua casa quanto em qualquer outro lugar por onde passava. Pra eles, tudo bem, riam, mas ela não levava a sério.

Foi muito difícil entender por que ela às vezes não se sentia à vontade com a cor da sua pele. Parecia não fazer parte daquilo que ela era. Queria ser preta, mas era morena, queria olhar no espelho e ver sua pele mais escura, não conseguia ver, pois sua beleza transcendia diante dos reflexos do espelho, que se curvava diante de sua beleza, enquanto uma voz dizia: “Ninguém é mais bela que você”. Mas, mesmo assim, prendia seu cabelo pra esconder no volume dos seus cachos a maior marca da sua raiz: a negritude.

Entendia  que o tom claro da sua pele não poderia determinar tudo o que sentia e acreditava, defendia e nem podia esconder sua história e da sua família. Seria mais fácil alisar seu cabelo, clareá-lo e aceitar o rótulo de branca, mas agora ela tinha escolhido soltar seus cachos e dizer “eu tenho sangue negro e como eu me orgulho disso”. Conseguiu encontrar a negritude que tanto lhe negaram principalmente quando entendeu que isso passava pelas suas escolhas e a de ser negra sempre foi à maior delas.

Escolheu amar seu cabelo cacheado, escolheu cultuar sua ancestralidade africana, escolheu respeitar o sagrado do seu lar, escolheu ter um discurso de mulher negra que reconhece a dívida histórica que a sociedade brasileira precisa pagar, escolheu ser mais uma voz que grita contra o racismo e o genocídio da população negra. Então, assim, ao finalizar, dou um tempo para aqueles que ainda quiseram defini-la por uma cor, mas antecipo que ela oferece a cor da sua alma, porque entende ser indiscutivelmente negra!



Será que nossas atitudes vão continuar vazias?

quarta-feira, 2 de setembro de 2015


Domingo, na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus em Aparecida de Goiânia, durante a celebração da santa missa, assistimos a um vídeo onde o missionário Eugênio Jorge mostrava o trabalho social desenvolvido pela Paróquia, principalmente no tocante aos abrigos: Casa Mateus 25 que acolhe pessoas doentes que necessitam de tratamento médico especial, cujas famílias não podem arcar com as despesas, e a Casa de Nossos Pais, que acolhe idosos que também não têm assistência de suas famílias. Ao final, o missionário disse que “essas e outras obras sociais dirigidas pelo Padre Luiz Augusto precisam da ajuda de todos os fiéis e da sociedade como um todo para que ele possa cumprir a sua função de cuidar com zelo dessas pessoas, que sabemos ser, na realidade, uma obrigação do governo”. A doação de cada um, por mínima que for, será bem vinda e de suma importância para a manutenção delas. Entretanto, aquele que porventura não puder fazer doações que faça pelo menos uma visita e converse com os enfermos e idosos, pois, às vezes eles se satisfazem apenas com a sua presença e um mero carinho. O seu sorriso e uma simples oração também podem fazer a graça acontecer, mas, todavia, é necessário que a obra permaneça mediante ajuda financeira, material e o trabalho participativo voluntário de cada um. Os beneficiados podem ter a certeza, ficarão eternamente agradecidos. No pequeno livreto Um Minuto de Sabedoria, encontrei esta frase escrita por C. Torres Pastorino: "A cada um de nós compete uma tarefa específica, na difusão do bem. Erga-se, para trabalhar, porque as tarefas são muitas e importantes, e poucos são os que têm consciência delas. Ajude o mundo, para que o mundo possa ajudá-lo. Estenda seus braços eficientes no cultivo do Bem, para que, quando os recolher, os traga cheios dos frutos abençoados da felicidade e do amor.

Findo o vídeo e após as palavras finais do missionário, observei que muitos fiéis ficaram emocionados e boquiabertos com tão bela obra assistencial. Quanto a mim, naquele instante, coube-me recordar de um pensamento bíblico que carrego sempre comigo: “Minhas mãos vão continuar vazias de pedras, mas o meu coração cheio de solidariedade e amor”. Sei o quanto é difícil, mas procuro fazer o bem sem olhar a quem; sei o quanto é difícil em face da situação financeira de cada um, estender as mãos aos mais necessitados. Eu, dentro de minhas limitadas condições financeiras, procuro fazer minha parte, principalmente no tocante a Casa Mateus 25 (enfermos) e a Casa de Nossos Pais (idosos). Durante a minha caminhada podem ter ocorridos vacilo, mas quem nunca vacilou durante caminhadas pela estrada da vida, principalmente nós seres humanos, possuidores de corações generosos, mormente quando nos encontramos diante de tantas atrocidades humanas; quando estamos diante da fome, das doenças; quando estamos diante de pessoas maltrapilhas, enfermas, sem condições financeiras de se cuidarem, e de tantas outras espalhadas nos corredores de hospitais públicos. Quem não vacilaria diante de tudo isso e de tantas pessoas deficientes e idosas que estão sem lar e alimentos para sobreviverem... Diante de..., quem não vacilaria? Mas o vacilo de que falo é quando nos esquecemos de tudo isso, de ajudar nas obras sociais de nossa comunidade ou não, seja até despercebidamente.

Não atiro pedras mesmo se minhas mãos estivessem cheias, porque não posso julgar as atitudes de quem não se dispõe a ajudar. Não posso prejulgar quem me critica ou daqueles falam mal, chegando a insinuar de que a gente só quer aparecer, na verdade apenas esquivam-se da responsabilidade sabendo que um dia essa verdade virá à tona, e virá porque eu me conheço assim como as obras sociais que ajudo. Conheço tantas outras pessoas que também ajudam e sei que seus atos são nobres. Não sei por que existe tanta mágoa, “cegueira”, inveja e ódio envolvendo o ser humano.

Tanto problema que surge na terra que dá vontade de voar até aos céus. Falar com Jesus, dizer-lhe que também não sou perfeito, fazê-lo entender que o meu defeito é gostar tanto do que faço em prol do ser humano. Mas sou apenas um grão de areia neste mundo, mas, como cristão, sei que não preciso voar até ELE. Sei que me basta orar, e orando, sei que virá a justiça, e se ela não vir dos homens, sei que virá de Deus. Disso tenho a absoluta certeza, como a certeza de meu respeito a todas as pessoas de bem, como você e tantas outras que continuarão impregnados em meu coração. Paz e bem a todos!


 
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