Por quem os sinos dobrarão.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Deus ao criar o homem colocou em sua mente uma multiplicidade de sensações e emoções capazes de despertar sentimentos mais variados – desde o prazer proporcionado pela contemplação da beleza, da harmonia e equilíbrio naturais, até do terror e impotência gerados por pessoas passando fome, doentes e sem condições de plantar a sua própria sobrevivência. Por outro lado, veem-se meninos e meninas cheirando cola para enganar a fome, crianças e mulheres que se prostituem para sobreviverem, chacinas, roubos, corrupção, abusos do poder econômico que oprimem, catástrofes e fenômenos naturais que ocorrrem no mundo, onde tudo parece irreal, mas é pura realidade e se alastram como se fosse uma coisa natural característica da própria espécie humana, que a tudo vê e assiste complacente através de jornais e imagens geradas pela TV.

Quando intitulei este artigo como “Por quem os sinos dobrarão”, título de um filme antigo, o fiz com  o intuito de homenagear o Padre Luiz Augusto e reportar o seu sermão proferido no último domingo na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus. Ele, incisivamente, pediu ajuda aos profissionais médicos e odontólogos que colaborássem na Clínica Atos e que resgatássemos da memória do tempo os bons fluídos, o amor ao próximo, a prática da solidariedade, a volta das riquezas e criatividades cristãs, que criteriosas, podem fecundar novas reflexões e ajudar a delinear e modelar novos conceitos de vida em face do processo atual, de forma que, cada pessoa se torne responsável pela sua própria história, pela sua própria libertação, transformando a sua realidade de forma que se efetive a justa liberdade e amor, ainda que de maneira rudimentar.
 
Naquele domingo, padre Luiz ao ver a multidão diante do altar e rincão inacabado, talvez sentindo a não presença de Deus em muitos corações e a falta efetiva de colaboração dos fiéis, passou no telão as obras que a comunidade Atos vem realizando em prol dos mais necessitados: mostrou pessoas famintas, enfermas, idosas e viciados em drogas, abandonadas, sem rumo, perdidas na escuridão de seu próprio ser. Preocupou-se sobremaneira com a situação real de alguns enfermos, como o do Carlos, mas não se deixou abalar pelo desânimo e insistiu junto à multidão que se praticasse a solidariedade, realçando-a como único valor e extremamente capaz de forjar um mundo mais justo, humano e fraterno.
 
Após ouvir as palavras do Padre Luiz, com o pensamento absorto, me vi caminhando pelas ruas da cidade, sem chutar pedras ou bisbilhotar as belezas circundantes. Olhava o vaivém dos veículos e a falta de respeito à leis de trânsito e ao próprio ser humano. Cada carro que ultrapassava o meu, sentia uma dor no coração ao imaginar que a vida de cada uma daquelas criaturas sequer tinha tempo de pensar que existe vida além vida e que poderia ter que prestar contas do que faz neste mundo de expiação e provas. Sequer tinham tempo de observar os pedintes amontoadas nas calçadas e uma criança esquelética sugando o seio da mulher que parecia doente. Um quadro que jamais apagarei da memória. Pouco mais à frente, um vento quente soprou manso e logo deparei com alguns jovens descontraídos que usavam colares, brincos, pircing, cabelos pintados em cores variadas, dando-se a impressão de estarmos em outro planeta. Fumavam e soltavam baforadas de fumaça que cheirava a “baseados” e nos refrigerantes, misturavam diminutas pedras de crack no afã de contemplar melhor a vida e de se “chegar às nuvens”, talvez numa nave criada pelas suas imaginações, sem destino e desvalida.
 

Ao quebrar os laços familiares, deixar de ajudar aos infortunados, aos doentes e àqueles que passam fome, o homem quebra também o elo da cadeia que o liga a harmonia, ao amor, a fraternidade, a fé e equilíbrio de forças assentes nas Escrituras, motivos relevantes que se não exercitados tornam implacáveis e difíceis a mantença da sobrevivência humana, e na forma em que está, banalizada, indiferente e que nos leva  passividade, não pode continuar. Ao final, deverão estar fundamantadas precisamente no amor, na caridade, não ficar à deriva, sem referência, para no final, saber por quem o sinos dobram e dobrarão e não perderem a visão familiar tão sonhada por Josué (24:15): “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”.
 
Hoje, o homem não mais cora de vergonha e muitas vezes nem vê  motivos para isso. Talvez a vergonha que não se aflora mais em seu rosto é que o faz fazer tantas declarações de intenções, tantos compromissos político-sociais, tantas promessas de ajudar ao próximo, ajudar aos doentes, ao menos favorecidos; muitas vezes não realiza alegando falta de tempo ou faz-se de esquecido. Ao analisar as palavras do Padre Luiz no último domingo confesso que corei e sei que muitos coraram e usaram a carapuça. Eu, principalmente, me senti em débito com a minha comunidade. Cheguei a conclusão também de que temos a oportunidade fazer alguma coisa boa em prol de nosso Planeta e se não o fizermos será por mero capricho. Podemos transformá-los num paraíso se agirmos com correção, termos amor ao próximo e sermos solidários um ao outro, ou num inferno, se sucubirmos sob o peso do pecado e da falta de amor ao próximo A resposta a esse desafio está presa nos elos da imensa cadeia da vida, que se quebrados, deixarão todos em cárcere inseguro, e para sairem ilesos, difíceis serão as decisões que cada um terá de tomar. E é diante dos fatos narrados que cheguei a conclusão de que os sinos dobram e dobrarão a todos aqueles que sempre ajudaram a segurar o cajado espinhoso da luta em prol da vida.

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