Amigo leitor (a)

Amigo leitor (a). Quando lemos um livro, ou qualquer texto, publicados ou não, que são sinônimos do prazer, por mais simples que forem, sejam reais ou surreais, nos permite exercitar a nossa memória, ampliar nossos conhecimentos e nos faz sentir as mais diversas emoções, por isso, sensibilizado, agradeço a sua visita ao meu Blog, na esperança de que tenha gostado pelos menos de um ou que alguns tenha tocado o seu coração. Noutros, espero que tenha sido um personagem principal e encontrado alguma história que se identificasse com a sua. PARA ABRIR QUALQUER CRÔNICA OU ARTIGO ABAIXO É SÓ CLICAR SOBRE O TÍTULO OU NA PALAVRA "MAIS INFORMAÇÕES. Abraço,Vanderlan

Retrato de Mulher

quarta-feira, 28 de março de 2012

Diante de um retrato pendurado na parede de moldura antiga, corroída pelo tempo, fiquei observando os cabelos grisalhos, presos no coque alto onde se  destacava um rosto maltratado, mas, via-se logo que, mesmo antigo, se tratava de uma linda  mulher, cujos olhos azuis  pareciam perdidos na escuridão de seu próprio ser, envoltos pela pele vincada por pequenas rugas e a boca amarga travada para baixo, num desdém pelos sorrisos que já dera na vida. O seu semblante parecia querer retratar que sua vida fora   apenas uma ilusão ou se era a corrosão de sua própria alma, do abandono de seus sonhos, do esquecimento de seus ideais ou de sua desistência da paixão. Para aqueles que conviveram com ela tempos idos sabiam que ela sempre trazia as maçãs do rosto coradas, os passos ágeis e os olhos arregalados que absorviam o mundo em sua totalidade. Ela era cheia de luz, uma alma inquieta, transbordante, vivaz.
Diziam que quando menina deslumbrava-se com a vida, e mesmo usando um vestido de cetim alcançando as canelas grossas corria pela terra seca, poeirenta, como se estivesse carregando uma alma de criança a tiracolo. Sonhava morar em uma cidade grande ou se ficasse em seu rincão, pelos menos casar-se com um príncipe de cabelos compridos que a levasse num cavalo branco, alado, e sob a luz do luar, amarem com loucura, sobre a verde relva que circundava o lago cheio de flores e árvores milenares que compunham aquele local aprazível.
Anos se passaram e lá estava eu de novo naquela fazenda e, sem tratar-se um sonho ou ilusão de ótica, fixei novamente meus olhos naquela moldura, agora nova, restaurada, e ao lado, outro quadro pendurado, onde se via uma paisagem, de outono, de um lugar qualquer, talvez imaginário e sobre o verde, uma cena inusitada: dois corpos estendidos sobre o capim verde, ela e o seu amado, que trajava uma calça grossa de algodão e camisa xadrez. Seus olhos castanhos pareciam voltados para o infinito e nos seus cabelos despontavam pequenas mechas brancas, enquanto ao longe, o sol descia soberbo no horizonte.  A moldura indicava que ela tinha ido para outra dimensão juntamente com seu peão. 

Naquele instante veio às minhas narinas o cheiro gostoso do feijão tropeiro que só ela sabia fazer, que travou a minha boca na emoção e no amargor que ela proporcionava quando também servia o café sem açúcar que costumava adoçar todas as  manhãs. A saudade abateu-me sobre o peito e ritmou meu coração.
Cabisbaixo e com o pensamento alhures, sentei-me no banco de madeira do velho casarão e comecei a pensar. A cada instante jogava os pensamentos impuros para fora e armazenava os puros, tempo em que ia contemplando com os olhos cheios de amargura o cair da tarde e o filete de água límpida e cristalina que descia recém-nascida do alto de uma grota, entre a única mata nativa, cercada de pedregulhos, brejal e lírios, formando ao redor um campo florido e fresco, onde os ventos brincavam de montanha-russa com a plantação de girassol, com pendo dando, que se alastrava pela ribanceira até alcançar a parte mais alta do córrego. Incessante como os meus pensamentos, que iam e voltava na velocidade do vento, o pequeno rego passava ao lado da casa também descia serpenteando incansavelmente os terrenos cheios de declives, dando vida ao  lugar e rumando para uma tênue caída numa pequena cachoeira. Indiferente a tudo, as águas, assim como eu, não víamos as horas passarem e tampouco tínhamos tempo para ouvir os pássaros cantarem no fundo do quintal.
O cheiro vindo da cozinha já não era tão convidativo, mas mesmo assim, em respeito a aquela guerreira todos saíram e, enfileirados, postaram-se ao redor do fogão à lenha, abastecendo os pratos com um   delicioso angu de milho, arroz, feijão, frango ao molho pardo com pequi, receita deixada por aquela saudosa  descendente de italiano de sangue quente Francesca  Milena Montalvan, os quais eram servidos acompanhados de verduras frescas colhidas diariamente na horta plantada à beira do rego d’água.
A mistura, outra herança deixada, ficava por conta da carne de porco adormecida em grandes latas e submersa em gordura que garantia o sustento daquela numerosa prole durante meses. Um paladar inigualável. Como dizia um dos peões: “É comer com as mãos, chupar os ossos e lamber os “beiços”.
Enquanto saboreava o jantar, ouvia a sinfonia de pássaros, rãs, grilos, cigarras, corujas, vaga-lumes, formando uma orquestra rural de brilho, cores e sons que nos remetiam à tranqüilidade e à paz. Os últimos resquícios de sol, alaranjado, ainda penetravam pelo vão da janela iluminando o quadro fixado na parede, deixando- o colorido e mais belo, cujos raios se refletiam no rosto daquela mulher que deixou saudade emoldurada naquele quadro que parecia ter sido pintado por um ser  imaginário vindo de outra dimensão.  
Essa rotina rural fazia parte da vida daquela mulher que com o olhar meigo, mesmo na parede, parecia dominar aquele rincão, onde mesmo as horas demoravam a passar e os dias eram enormes, não se esmorecia diante das tarefas diárias que enfrentou durante sua existência, principalmente quando se via diante de um sol escaldante ou sob chuva fria.
Nos tempos idos, apesar das dificuldades, sentia-se feliz ao manejar a terra e ajudar na lida com o gado e talvez seja isto, além do amor a terra que compartilhava com seus entes querido, é que senti pairar naquele retrato o semblante de uma mulher guerreira que sempre procurou  esconder sua dor e as incertezas que tinha em relação ao futuro e das adversidades que poderiam advir com o propósito de tirar a harmonia conjugal, o respeito mútuo, o amor e a paz que sempre reinou em seu lar. (minha     humilde homenagem ao dia internacional da mulher).

Pedofilia, Estupro e Incesto: Crimes que Afligem a Família e a Sociedade

quarta-feira, 21 de março de 2012

Todos os dias, indignado, assisto a noticiários televisivos onde repórteres mostram casos de pedofilia, estupros, incestos e atentados violentos ao pudor praticados por pais que violentam suas próprias filhas e os padrastos, as enteadas, engravidando-as, sem a mínima compaixão e respeito aos inocentes seres humanos. Hoje, sem duvida alguma, esses são os crimes do momento e um desses, que ocorre entre parentes consangüíneos e que se inclina para a prática de ato ilícito mais covarde, está o incesto. As veiculações dessas notícias envolvendo esse tipo de conduta contra menores trazem a certeza da atenção do publico e consequentemente, intensa discussão sobre o tema. Descartando o debate sobre a influência da mídia na sociedade, considerada detentora do “quarto poder”, pode-se dizer que o certo é que as chamadas referentes ao assunto em  tópico se tornam uma sensação da atualidade.   Basta ver o desespero do apresentador Luiz Datena quando se vê diante destes fatos estarrecedores que, em certos momentos, angustiado diante de tanta tara humana, diz aos telespectadores: “Me ajudem aí ô!...”

A maldade e desrespeito humano extrapolam os limites da insensatez. Outros noticiários destacam pessoas nefastas em busca do dinheiro fácil explodindo caixas eletrônicos; motoristas embriagados atropelando e destruindo vidas e ficam impunes; marido espancando esposa; filhos matando pais e vice-versa; pessoas assaltando e atirando à queima-roupa, sem piedade ou dó; outras matando e degolando suas vítimas apenas para  sentir o prazer de ouvir o gemido do desafeto. Onde vamos parar? Quando falo de tudo isso, chego à conclusão que até o crime de colarinho branco está ficando em desuso, apesar de que, se analisarmos sob a ótica política, poder-se afirmar que, se compararmos a uma calça jeans,  este assunto jamais sairá da moda.

O título do preâmbulo, quer queira, quer não, é o grande assunto do momento e a imprensa escrita e   televisiva sabe disso. As manchetes apontam nesse sentido e até certo ponto, com muito sensacionalismo, sem resultado prático, principalmente quando se trata de crimes praticados por políticos, padres, pastores, professores, advogados, empresários, militares, agentes públicos, e assim por diante.

Quando o estupro é noticiado pela mídia, a população exige formas de punição ou pelos menos prisão perpétua dos envolvidos. Então, a atenção dada a esses casos repercutem de forma intensa, principal-mente quando de fala de jogos do azar. Mas, quando se trata de pedofilia, estupro de menores e casos de     violência sexual com filhas e enteadas, não se sabe como agir, apesar do sentimento de revolta que toma conta da população. O pedófilo raramente mantém relações sexuais com penetração. Os ataques sexuais contra crianças se iniciam geralmente de uma forma verbal ou exibição do genital, ou podem consistir em acarinhar ou “bolinar” as crianças com toques nos órgãos genitais. De outras formas, vendo e      exibindo fotos pela internet sempre sendo acariciadas, seminuas ou despidas, muitas vezes, fotografadas    e cenas horripilantes gravadas em vídeo por eles mesmos. Dizem os especialistas que essas pessoas são incapazes de encontrar satisfação sexual em uma relação adulta.

O estupro e o incesto diferem da pedofilia porque eles são praticados de forma violenta sem a aceitação da vítima. Percebe-se, claramente, que temos um grave e sério problema a enfrentar. Essas doenças  psíquicas são de difícil tratamento e tais abusos sexuais estão se alastrando cada vez mais, cujos efeitos, após os atos libidinosos, abusos sexuais, estupros, trazem doenças físicas e psicológicas extremamente  danosas para as crianças e adolescentes. O pior é que essas pessoas passam sempre despercebidas pela família em relação à tara. Muitas vezes se encontram próximos à criança e aproveitam da ausência da mãe e da sua própria inocência e fragilidade para satisfazer seus instintos sexuais.

Diante dessa situação periclitante, conclui-se que estamos diante de um grave e sério problema que deve ser debatido urgentemente pela sociedade, pelas organizações não governamentais, pelas igrejas, não importando qual o rito religioso e com a participação ativa dos três podres da República Brasileira, para que as condutas e punições dessas pessoas sejam realmente mais severas. De outra parte, pode-se evitar  com essas ações conjuntas a degeneração da família que a cada dia está ficando mais longe de Deus, assim como,  evitar também que as crianças abusadas por esses  desequilibrados  mentais se calem e venham, futuramente, sofrer conseqüências   psicológicas irreversíveis e marcas emocionais e profundas para sempre.

Santa Missa no Altar da Humildade

terça-feira, 13 de março de 2012

“E revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”  (1.ª Pedro: 5.6)

Hoje ao escrever esta crônica lembrei-me da primeira missa realizada na Paróquia Santa Terezinha que infelizmente naquele dia não pude estar presente. Passaram semanas e restabelecido de um procedimento cirúrgico compareci no último domingo e com o coração em júbilo, vi o Padre Luiz Augusto mesmo num altar improvisado, montado em um ginásio de esportes ao lado da Paróquia, celebrar com alegria a missa diante de uma grande a multidão de fiéis. Antes de chegar ao local, passei por algumas ruas do Setor Expansul e a cada instante sentia um clima de alegria abater  sobre aquela comunidade e no rosto de cada um, estampavam sorrisos de satisfação em face da presença do Padre Luiz, que de alguma   forma deu vida nova àquele longínquo bairro. Ao adentrar no ginásio senti nos olhares dos irmãos o prazer imensurável de compartilhar daqueles momentos ímpares: clamar  e buscar incessantemente a presença de Jesus Cristo. Hoje, sentado diante do monitor e manuseando o teclado do computador para escrever esta crônica, senti-me imbuído de um sentimento incomum e assim, resolvi transformá-la em uma obra poética, ao invés de falar em sofrimentos e invejas que pairaram em nossos pensamentos e  corações durante a grande jornada que empreendemos para o retorno do Padre Luiz. Veio à minha mente a questão do trabalho de evangelização realizado por ele que estava impedido por aqueles que se consideram superiores como seres humanos apenas porque têm um cargo socialmente mais valorizado dentro da igreja e o poder da caneta nas mãos. Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe de quem estou falando?”

Ao questionarmos algo que a religião católica põe em prática, mas, muitas vezes não pratica e até proíbe, de certa forma jamais vamos entender quem vai ser escolhido para depois expandir de vez o evangelho. Talvez não seja de nosso conhecimento que haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, como a sístole e diástole. Parece que existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e indianos,  inseriram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso quando se fala em punição a um sacerdote, a ciência tem isso como hipótese e a religião católica como tese e    definitiva. E nesse mundo complexo podemos afirmar que pertencemos a uma galáxia impura, que é uma entre milhões de galáxias, num dos universos possíveis e que vai desaparecer se não nos tornamos humildes, não respeitarmos a natureza e os desígnios de Deus. Nessa nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora os cientistas chamam de estrela-anã, o Sol e Deus o criou para nos dar vida, assim como ao nosso Planeta Terra. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz   própria, nove ao todo, ou talvez, oito sei lá!

Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para existirmos aqui na Terra. E isso é que é um Deus, que entende da relação custo-benefício! Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só para ele existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque que usa, com a religião que pratica. Gente que tem inveja de outra só porque ela se destaca melhor na sociedade em que vive, e essa pessoa sequer tenta calçar as sandálias da humildade, muitas vezes sequer enxerga o seu próprio umbigo e nem se desculpa por seus próprios   erros e desatinos.

Permita-me caro irmão e leitor defender mais uma vez o Padre Luiz Augusto. Ele em sua trajetória de sacerdócio sempre pautou em servir a sua comunidade e não ser servido por ela, e em sua sabedoria cristã, continua clamando a Deus para que não o deixe desistir de ser padre; que não o deixe esmorecer diante das adversidades que surgiram e possam continuar surgindo; que  povo cristão não seja novamente prejudicado e que aqueles que acreditam no seu esforço de evangelização  e naquilo que  realiza em prol de sua comunidade, não sejam em vão; que Deus o mantenha distante de todas as maledicências, arrogâncias e invejas, e definitivamente,  receba a injeção da esperança, do amor e da fé, para que possa continuar construindo o altar da humildade, pregar com sabedoria, ensinar ao povo  o caminho da retidão, a amar ao  próximo e a estender a mão a quem precisa.

interlocutor espiritual esse abnegado paladino da fé que há mais de quinze anos vem  evangelizando  usando o altar da  humildade. Por fim, não poderia deixar de agradecer ao padre Castro por ter acolhido com carinho o Padre Luiz e todos os seus irmãos de fé.

Níqueis Caíam em Cachoeira

terça-feira, 6 de março de 2012

Dia perfeito para uma caminhada matinal. O quintal da fazenda Bela Vista estava sombreado por imensas árvores que amenizavam o calor causticante, mas a hora de voltar chegara, pois não podia caminhar por muito tempo por ordem médica como fazia anteriormente, no entanto, para a minha sorte, a pequena estrada  que levava ao pequeno riacho estava  plana e sem poeira; tudo  muito perfeito até alguém  ao passar por mim  injetar-me uma dose de insatisfação:  um boiadeiro montado num cavalo baio, interpelou-me dizendo em voz alta que uma organização que explorava jogos ilegais tinha sido desmantelada pela Polícia Federal e entre os suspeitos estavam um tal de Carlinhos Cachoeira e muitas outras personalidades  ilustres entre civis e militares. Relutei um pouco a acreditar. Ao final da prosa, sentindo o conhecimento político daquele matuto, restou-me ficar estático e pasmo em relação aos nomes dos envolvidos. Despedi-me e voltei o olho para o lado esquerdo da estrada e a poucos metros uma pequena, mas imponente cachoeira me esperava. Era costume quando ia à fazenda visitar aquele local aprazível. Ainda atônito com a notícia, desci sobre o barranco acalentado pelo som da água que caia mansa sobre o poço e naquele instante eu mais parecia um menino que sentia a perda de seu pirulito tomado por um pivete. Olhei para os raios de sol que passavam retalhados entre os galhos daquelas árvores milenares e pensativo, me lembrei dos conselhos e exemplos de honestidade dados pelo meu saudoso pai e saudosa mãe que me mostraram o caminho da retidão, ensinando-me a fazer o bem sem olhar a quem.

Pensativo, fiquei olhando as águas e de repente, por encanto, no meio daquele grande volume de água vislumbrei grande quantidade de níqueis que caíam em cachoeira misturando-se a rostos conhecidos e estranhos naquele espelho d’água, e com eles, insígnias, boinas, coturnos, coletes, distintivos e armas de todos os calibres também iam se desprendendo das emaranhadas máquinas caça-níqueis, enquanto viaturas recolhiam uma a uma. A Polícia Federal no intuito moralizador ia enquadrando os usuários daquelas parafernálias eletrônicas nos crimes de corrupção ativa e passiva, facilitação ao contrabando, contrabando, violação de sigilo, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha. A cachoeira, naquele momento inusitado e surreal, ficou poluída e no poço, formou-se um lamaçal. Estupefato, olhando para o sol ainda matinal, questionei: O que leva um empresário ou uma pessoa graduada a fazer isso? Que exemplo está dando a seus filhos? Será que esse tipo de pessoa não importa com nada, apenas com o ganho fácil? Será que esse tipo de ação criminosa faz parte de sua índole, ou sua personalidade já faz parte deste mundo profano?

Olhei novamente sobre o espelho d’água enlameado e vi meu rosto refletir sobre ele. Ainda foi possível ver meus cabelos com as pequenas mechas brancas e o rosto carcomido pelo tempo, que trazia sinais de muita luta, alegria, dor e saudade; foi possível meus olhos verem as águas revoltas por receber aqueles incômodos detritos,  e perdido dentro de mim mesmo, tentava enxergar o impossível para salvá-la daquele lodaçal, mas tudo que planejava era em vão; o meu cérebro cansado de tantas labutas também quedou-se  diante de tantas mazelas; o meu coração extenuado de dor, tentava compreender porque  pessoas de fino trato social  passam a pertencer a uma organização criminosa altamente sofisticada no afã de proteger o líder maior  e os exploradores da jogatina no Estado, assim como, nas operações criminosas, onde recebem,  dele ou deles, em troca,  as famigeradas propinas, cujo valor variava de  acordo com a função do agente público ou a patente militar. Esse grupo de pessoas inescrupulosas estava infiltrando em todos os setores da administração pública deixando o Estado vulnerável.

Naquele momento de tortura surreal, outras situações pitorescas continuaram acontecendo, todas caindo sobre aquela cachoeira.  Eram rostos de Ministros, prefeitos, mulheres fiscais da receita federal e primeiras-damas, todos e todas carregando dinheiro na mão desviados do setor público para comprar mansões, carros importados, vinhos, uísque, rações  para  cachorro, compras em supermercado, lingerie e tantas outras mazelas. A água já raivosa parecia querer romper-se junto às pedras pontiagudas ante a corrupção generalizada que ali passava, ainda mais tratando ato de corrupção praticada por mulher.  Segundos depois, caía desembestada uma sucata giratória - a montanha-russa do Mutirama, - infestada de vírus corruptos que contaminou toda a água, transformando aqueles rostos que caíam em cachoeira em espectros humanos travestidos de sorrisos irônicos.

E quando menos esperava apareceram outras situações horripilantes envolvendo políticos renomados, tanto do alto como de baixos escalões do governo. Denúncias estarrecedoras e de repercussão nacional, que me deixou envergonhado e com certeza toda a sociedade estupefata e boquiaberta. Analisando a situação em tela que gerou aquele impacto surreal e assustador, entendi que no homem político a fraqueza de sua natureza humana tende a distorcer a personalidade do seu cargo e do poder e o leva, enquanto autoridade em função pública, a apropriar-se privadamente dos poderes inerentes ao  cargo e não à sua pessoa. A cachoeira parecia querer me envolver e mãos enlameadas saiam do fundo do poço tentando me puxar para dentro, mas, graças a uma força estranha talvez movida por uma noite mal dormida e a freada brusca de carro acordei. Com o corpo suado, levantei-me da cama, fui à janela, olhei o sol que já nascia soberbo no horizonte e respirei fundo. Tudo fora apenas um sonho. Graças a Deus!

 
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